domingo, 28 de novembro de 2010

As redes sociais infantilizam o cérebro - Por Susan Greenfield


André Rocca

Facebook e Orkut podem infantilizar seu cérebro. Funciona assim: o cérebro é altamente "plástico", ou seja, é constantemente influenciado pelo mundo exterior. Se o cérebro é sensível ao ambiente e o ambiente está mudando, isso significa que o cérebro muda também. Cada vez mais, as pessoas passam suas vidas em frente a telas. E, mais importante que discutir se essa mudança é boa ou ruim, é pensar que tipo de cérebro nós queremos.

Um cérebro infantilizado é um cérebro cujo córtex pré-frontal apresenta baixa atividade. Essa é a área do cérebro que é mais desenvolvida em humanos se comparada com o órgão de chimpanzés. O córtex pré-frontal só alcança maturidade após a adolescência. Antes desse período, o cérebro é caracterizado pela "síndrome de hipoatividade frontal", na qual o funcionamento cerebral é mais impulsivo e sensitivo, e não abstrato e cognitivo.

As crianças têm cérebros que são mais maleáveis, já que elas não têm tantas conexões cerebrais pré-existentes. Elas têm uma quantidade excessiva de conectividade, permitindo-as adaptarem-se a qualquer ambiente no qual elas se encontram. Depois dos 10 anos de idade, essa habilidade de aprendizado generalizada se torna mais especializada. Porém o cérebro humano é constantemente adaptável, até a morte. Portanto, adultos também são afetados por qualquer mudança extrema no tipo de ambiente.

A geração que passa a vida toda através da tela terá um cérebro adaptado a um mundo que passa pela tela. Isto é, um mundo em que empatia, narrativa e significado são menos importantes que os fortes conteúdos sensórios de experiências atuais.

André Rocca

A internet está mudando nossa forma de pensar. Temos acesso imediato a fatos, mas sem, necessariamente, ter uma estrutura conceitual que os ligue. Os fatos não se tornam "conhecimento". Vivemos a era da informação, queremos informação em grande quantidade e velocidade, porém ainda precisamos de tempo para ligar os fatos e interpretá-los, pois isso é que gera conhecimento.

O cérebro humano não é uma máquina de filtrar, mas, sim, um processador que usa as informações que nos cercam para entender o mundo. Apesar de as crianças, por exemplo, digerirem a informação de maneira rápida e terem a capacidade de aprender decorando de forma satisfatória, os cérebros delas não são melhores do que o de um adulto vagaroso que é capaz de entender e usar as informações ao redor ao colocá-las em uma estrutura mais ampla e conceitual.

É muito difícil mostrar uma conexão entre as redes sociais e as doenças cerebrais. Há vários estudos sobre a plasticidade neural, mas nenhuma pesquisa focou-se diretamente em imagens escaneadas do cérebro dos indivíduos que passam a maior parte do tempo em frente a telas. Ainda assim, é importante notar que há um aumento tanto em casos de autismo, quanto em episódios de distúrbio de déficit de atenção. Será apenas coincidência ou o crescimento dessas doenças pode ser associado ao uso frequente do computador?

Susan Greenfield

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Ética às nossas crianças

Ética às nossas crianças

Por Ceres Alves de Araújo | 06/10/2010

Ética é uma matéria que faz parte do aprendizado de vida, no qual os pais devem ser os melhores professores. Então, como se ensina ética?

Ensina-se aquilo que se é. Ética se transmite. O que será apreendido e processado pelos filhos não é o que advém de um discurso verbal, de uma pregação ou de um sermão, mas sim o que eles captam no pensamento e na ação de seus pais. O cérebro é um leitor de mentes. As neurociências demonstram que o cérebro humano se desenvolve para captar e ser captado pelo cérebro do outro. É função inalienável dos pais transmitir condutas éticas a seus filhos, desde os primeiros tempos de vida.

Não se trata de ensinar o filho a ser “bonzinho”, pois ele corre o risco de ser bobo, mas sim de torná-lo um ser responsável por suas ações, desde os primeiros tempos de vida. Como pais, cumpre dar exemplo de autonomia e liberdade interna para fazer escolhas e assumir posições e se responsabilizar por elas. Uma pessoa só é ética quando se orienta por princípios e convicções.

As crianças precisam ser ensinadas à verdade. “Eu não quero que meu filho minta” — essa é a expressão do desejo de todos os pais. Mas não é fácil trabalhar essa questão com as crianças. Quantos pais saem de casa escondidos dos seus bebês para evitar berreiros? Quantas promessas são feitas às crianças sem que se tenha intenção ou possibilidade de cumpri-las? Quantas pessoas, quando toca o telefone, dizem para o filho: “Fala que eu não estou”? Quantas vezes as pessoas ensinam uma coisa e praticam outra? Quantas vezes se lida com a ética como se ela fosse algo maleável, adaptável a cada contexto?

Mentindo, os adultos ensinam seus filhos a mentir, pois eles perdem a referência do que é certo ou errado. Nada justifica uma mentira, não existem “mentirinhas”, mentiras “piedosas” nem mentiras “politicamente corretas” — todas fazem mal. É falsa a dicotomia entre mentira boa e mentira ruim. Ela por si só é ruim. E isso precisa ser transmitido às crianças. Falar a verdade implica ser honesto consigo mesmo e com os outros e assumir as consequências de seus atos. Essa é a base da ética.

Mentindo, os adultos ensinam seus filhos a mentir, pois eles perdem a referência do que é certo ou errado. Nada justifica uma mentira, não existem “mentirinhas”, mentiras “piedosas” nem mentiras “politicamente corretas” — todas fazem mal. É falsa a dicotomia entre mentira boa e mentira ruim. Ela por si só é ruim. E isso precisa ser transmitido às crianças. Falar a verdade implica ser honesto consigo mesmo e com os outros e assumir as consequências de seus atos. Essa é a base da ética. o que é certo e o que é errado, o que faz bem e o que faz mal.

Muitos pais, sem perceber, favorecem a possibilidade de o filho mentir. Sabem que a criança fez alguma coisa que não deveria ou deixou de fazer algo que deveria e a interpelam: “Você bateu no seu irmão?”; “Você quebrou tal objeto?”; “Você fez a lição?”… Por impulso, por medo das consequências ou por medo do castigo, a criança mente. Seria melhor não perguntar, mas afirmar: “Eu sei que você bateu no seu irmão”; “Eu sei que você quebrou tal objeto”; “Eu sei que você não fez a lição”; e tomar as providências cabíveis, evitando colocar a criança diante da possibilidade de mentir. Frases interrogativas, nesses casos, podem induzir à mentira. É melhor usar as afirmativas.

Outro ponto importante para ensinar ética às crianças é mostrar que diferente não é sinônimo de errado. Diferente é apenas diferente. Isso ajuda e muito a criança a perceber que ela pode ter amigos respeitando eticamente as diversidades de raça, crença, sexo, nacionalidade. Fica difícil para uma criança ter o aprendizado da ética quando os pais, em casa, zombam de uma pessoa por ser de raça ou nacionalidade diferente.

No esporte também se forma a ética da criança. Vencer é o objetivo. Para isso se faz a contenda. Mas jamais se deve admitir que os filhos ganhem mediante fraude. É frequente a criança com 6, 7 anos roubar no jogo. Ela quer ganhar, custe o que custar. Alguns adultos, ao jogar com as crianças, permitem o roubo e/ou deixam que elas ganhem, jogando mal de propósito. Isso não é válido e deseduca. Jogo é jogo. Deve ganhar o melhor ou quem teve mais sorte. Mesmo que seja dolorido, cumpre ao adulto mostrar que o jogo só tem graça quando jogado honestamente. Assim, quando a criança ganhar, ela saberá que, de fato, foi competente e comemorará uma vitória digna, uma vitória com ética.

Nossa época é pobre em ética. Modelos de corrupção, de indignidade, de desonestidade, de sonegação são numerosos em nossa sociedade. Nossas crianças ficam inexoravelmente submetidas a eles. Porém, a ética é própria do ser humano, que cria uma natureza moral sobre sua natureza instintiva. Princípios e valores sempre foram e continuarão a ser o que caracteriza a humanidade no homem e continuarão imprescindíveis para nos manter civilizados.

Ceres Alves de Araújo é psicóloga e professora da PUC-SP